Saúde
Um alerta para além do Outubro Rosa
Ação no largo Edmar Fetter procurou disseminar informações; em Pelotas, 152 novos casos de câncer de mama foram confirmados em 2017
Paulo Rossi -
O Outubro Rosa é de conscientização. O desafio, entretanto, é estender o alerta ao restante do ano. Afinal, a mama corresponde a 28% dos novos casos de câncer registrados em mulheres no Brasil. Só em Pelotas, em 2017, 152 pacientes, que passaram pela Secretaria de Saúde, receberam confirmação do diagnóstico. No ano passado, outras 168 receberam orientação para dar início ao tratamento.
O acesso aos exames, que permitam a detecção precoce, é fundamental para elevar as chances de derrotar a doença. Na prática, nem sempre é o que ocorre. Só em Pelotas, quase duas mil mulheres aguardam por uma mamografia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É a situação da artesã Carmem Regina da Rocha, 54, que há seis meses recebeu requisição para realizar o exame, essencial ao período de acompanhamento. Fundamental para que possa manter a afirmação: "Eu venci a doença".
Nesta sexta-feira (6), representantes do Poder Público, de instituições de ensino, de entidades e da iniciativa privada reuniram esforços em ação conjunta para reflexão e prestação de serviços à comunidade.
Do impacto à determinação em viver
Os medos se agigantaram por uma semana, em maio de 2014. A feição de susto do filho Tayson, então com 12 anos de idade, se converteu em força. Dali em diante, a artesã Carmem da Rocha reafirmaria uma posição: "Eu não vou morrer". E travou uma luta contra o câncer, agressivo, determinada em sair vitoriosa. "Decidi que eu queria muito viver."
E assim tem sido. Cirurgia na mama direita, quimioterapia, perda de cabelos, radioterapia, dores musculares... Tudo foi enfrentado. Com garra. Nesta sexta, ao participar da atividade de conscientização no largo Edmar Fetter, a pelotense destacou uma das principais lições que ficaram: a importância da prevenção. Até procurar o médico, por insistência do marido Alaor, foram aproximadamente quatro anos longe dos exames de rotina. Algo que ela, por certo, não irá repetir.
O autoexame já não basta
É preciso estar atento: o autoexame de mamas, que já foi tão propagado, hoje não é mais recomendado como medida de prevenção. O alerta é da oncologista clínica, Sílvia Saueressig. Ao se tocarem, muitas mulheres não identificavam alterações e o cuidado, que era para trazer resultados positivos, acabava por gerar diagnósticos tardios - ressalta a professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas.
O exame de rastreamento indicado, portanto, é a mamografia. E, não raro, as mulheres também precisam passar por ecografias para complementar informações e, se necessário, correr para combater a doença em estágio inicial. Atentar-se ao corpo, claro, sempre será importante, mas o autoexame não deve substituir outros tipos de cuidados.
Mais mamografias
1) Hospital-Escola: O número de mamografias oferecidas pelo Hospital-Escola da UFPel irá dobrar a partir de novembro. Passarão a ser realizados 40 exames por dia. A ampliação será possível por duas razões centrais: o conserto do mamógrafo e o aumento da equipe técnica em radiologia, que agora passará por treinamento.
2) Buquê de Amor: O Instituto comercializa camisetas e a 3ª edição do Calendário de Mulheres, para arrecadar fundos e pagar mamografias a quem amarga na fila para realizar o exame. Os interessados em adquirir os produtos pode fazer contato pelos telefones (53) 98131-8471 e 99910-1662. Uma exposição com as fotos do calendário pode ser visitada até o dia 15 deste mês no Shopping Pelotas.
Saiba mais
* Quando a mamografia deve ser realizada?
- O que preconiza o Instituto Nacional do Câncer (Inca): Dos 50 aos 69 anos de idade, a cada dois anos
- O que recomendam as entidades médicas: A partir dos 40 anos de idade, anualmente
* A demanda reprimida em Pelotas
Quase duas mil mulheres aguardam para realizar o exame. Durante todo o 2017, foi realizada uma média de 400 mamografias, por mês. O fato de a portaria 61 do Ministério da Saúde, de outubro de 2015, limitar a disponibilização do exame pelo SUS às mulheres assintomáticas com idades entre 50 e 69 anos, deixa de fora todas as outras: abaixo dos 50 e acima dos 70.
A oferta de serviços e a capacidade instalada para atender a população, via SUS, também ajudariam a justificar o cenário - argumenta a diretora de Gestão Ambulatorial e Hospitalar, Suelen Arduin. E, com base no gargalo, a diretora aproveita para fazer um apelo pelo comparecimento. Só em setembro, por exemplo, 109 mulheres confirmaram que iriam fazer o exame, mas não retiraram seu sistema de referência para realizá-lo.
"Por isso queremos trabalhar a conscientização dessa usuária. Só neste último mês, foram 109 vagas que poderiam ter sido disponibilizadas a outras mulheres e acabaram sendo perdidas", lamentou.
* A doença no Rio Grande do Sul
- Relatório do Inca aponta à ocorrência de 74,3 novos casos a cada cem mil habitantes, em 2017; número que se assemelha à Europa e aos Estados Unidos. Para o restante do país, a projeção é de 56,20 casos de câncer de mama a cada cem mil habitantes.
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